terça-feira, janeiro 07, 2020

Desabafo


Olá, como vão? Eu não ando muito bem, pois, ainda que eu seja autoexplicativo, as circunstâncias atuais me obrigam a explicar a minha existência, a minha constituição. Então, sou um livro e, sendo um livro, trago em mim um montão de coisas escritas. Sou assim, fui feito assim e, pasmem, fui feito para ser lido. Lindo, não? Adoro quando me leem, quando me cheiram, quando me alisam. E fico pra lá de triste quando acabam de ler-me. Fico com um vazio, uma saudade daquelas mãos, daqueles olhos. Mas tudo passa assim que outras mãos e outros olhos me agarram. Sou bem volúvel, alguns dirão. Há livros que são ilustrados e livros com ilustrações, ou com fotos, lindos e que também devem ser lidos, cheirados, admirados. Eu não sou nem ilustrado nem com ilustração nem fotos, e trago em mim apenas letras, palavras, frases, orações, períodos, capítulos. Sem modéstia nenhuma, devo dizer que tenho uma riqueza interior imensa, e quem comigo anda acaba também ficando bem riquinho por dentro (por fora não garanto riqueza, mas por dentro...). Se eu não fosse assim, com um montão de coisas escritas, e viesse com as páginas em branco, com linhas, talvez, daí eu deixaria de ser livro para ser um caderno. O caderno, sabem, são vazios e ficam vazios para sempre caso ninguém neles escreva, ou desenhe, ou faça bolinhas de papel com suas páginas. Apesar de eu nunca me cansar de dizer, de falar, de contar, de tagarelar, vou ficando por aqui para não esfalfá-los. É isso aí. Um abração!


Descompasso  Os ponteiros do relógio não conseguem mais acompanhar a passagem das horas. Nanci Ricci