De costas para o mar, os gigantes ancestrais de pedra
guardavam, protegiam e esperavam, esperavam e esperavam que os pequenos de
carne e osso, enfim, fossem bons, antes de serem belos.
Minicontos ou microcontos, contos e crônicas bem-humoradas, ou repletas de mau humor, de minha autoria, indicações de livros infantis e o que mais vier à cabeça.
sexta-feira, outubro 20, 2017
Palavra do dia: meias (20 out. 2017)
Acabou com o clima porque não tirou as meias soquetes.
#microcontosescambauquinta-feira, outubro 19, 2017
Palavra do dia: fita
A fita do Bonfim ainda está amarrada no pulso, três nós,
três desejos.
Palavra do dia: carta
Deu um beijo de batom e escreveu “Te amo” no final da carta
que enviou para si mesma.
#microcontosescambau 17 out. 2017
Microconto vencedor da 3a. semana do V Prêmio Escambau de Microcontos.
Microconto vencedor da 3a. semana do V Prêmio Escambau de Microcontos.
Palavra do dia: clique
Teve um clique de arrependimento assim que ficou de quatro.
Levantou-se e resolveu que não ia esfregar o chão coisíssima nenhuma.
#microcontosescambau 6 out. 2017
Palavra do dia: nostalgia
Na casa cheirando a naftalina, cortinas de voal voando com o
vento, vitrola rodando um disco de ópera, e de hora em hora o pássaro do
relógio dizendo “cuco, cuco”, iniciava-se, enfim, o tec tec tec da máquina de
escrever a construir uma história. No alto da folha, o título: NOSTALGIA.
#microcontosescambau 3 out. 2017
sexta-feira, agosto 11, 2017
Palavra do dia: Europa (30 jul. 2017)
Macau, Hong Kong, Beijing, Buenos Aires, Lima, ilha de Páscoa, pintava no
mapa os lugares que queria conhecer e não podia. Um dia, estava pintando os
países todos da Europa e, quando foi pintar com seu lindo lápis azul o mar
Mediterrâneo, escorregou e caiu na água. Nunca mais foi encontrada.
#microcontoescambau
Palavra do dia: semana (27 jul. 2017)
Os humanos começavam a semana pensando que acordaram na
segunda, mas ao piscar já estavam na quinta-feira. Bobinhos, não sabiam que o
Senhor Tempo, apressado que só ele, excluiu todos os outros dias, mantendo a
existência apenas da quinta-feira.
#microcontoescambau
domingo, julho 23, 2017
quarta-feira, julho 19, 2017
Palavra do dia: aquário (17 jul. 2017)
Naquele pequeno aquário transparente
e cheio de água, de pedrinhas, de plantinhas, com um gigante vindo de vez em
quando com um potinho parecido com um saleiro e despejando uma comidinha sobre
a água ou fazendo biquinho no vidro, o peixinho pensava: “Eta vida besta, meu
Deus!”
Texto: Nanci Ricci
Desenho: Miguel F. Ricci
terça-feira, julho 11, 2017
segunda-feira, julho 10, 2017
Palavra do dia: brigadeiro (9 jul. 2017)
Ano 3012. Dentro de uma caixa hermeticamente fechada,
encontram uma bolinha marrom, muito macia e com dizeres que não entendem:
“Brigadeiro”. Experimentam e concluem: “Se foram capazes de inventar algo tão
delicioso, não deviam ser de todo maus” (tradução livre).
Palavra do dia: alumínio (8 jul. 2017)
Alumínio das panelas reluzentes, nenhum copo sujo na pia.
Não há pó à vista nem fora da vista. Tudo em ordem. É o que queria, afinal.
Limpeza, ordem e solidão. Por fim, suspira: “Que saudades da casa cheia de
gente, de conversa, de risada e de desordem. Que falta me faz uma pia transbordando de
louça.”
quinta-feira, julho 06, 2017
quarta-feira, julho 05, 2017
Palavra do dia: ponteiro
Pararam. Não
aguentavam mais levar uma vida de não parar nem um minuto. E não adiantou dar
corda, se de corda fosse, nem trocar as pilhas, se delas dependesse, nem dar
uns petelecos, se eles resolvessem a situação. Eram ponteiros que não tinham
mais tempo para relógio algum.
Microconto que ficou em 10º lugar no IV Prêmio Escambau de Microcontos.
Participando do concurso de microcontos Escambanautas <https://www.facebook.com/groups/cambanautas/> de julho/2017.
segunda-feira, julho 03, 2017
domingo, julho 02, 2017
quarta-feira, junho 28, 2017
Miniconto com a palavra "carinhoso" (escrito em primeiro de fevereiro de dois mil e dezessete)
Rubens estava apaixonado por Linda. Ouvia sem parar
“Carinhoso”, de Pixinguinha. E chorava nos versos “Meu coração/ Não sei por
quê/ Bate feliz/ Quando te vê”. E suspirava ao vê-la passar. Não se declarava
por se achar o mais feioso e sem graça dos seres. Linda se casou com Caco.
Tiveram um filho: Rubens.
sábado, junho 17, 2017
Palavra do dia: destino
Livrara-se do destino de loucura da família e escapou dos
hospícios e de um ir e vir incessante. Brilhante e inventivo, também guardou
por toda a vida um segredo para que pudesse manter-se no anonimato. Assinava
como Damião dos Santos, em vez de seu verdadeiro nome: Alberto Santos Dumont.
sexta-feira, junho 16, 2017
quarta-feira, junho 14, 2017
terça-feira, junho 13, 2017
Microcontos com a palavra "olhar"
1) Não era um olhar qualquer, mas sim um olhar que matava mais
do que bala de carabina. Bastava um só relance para que os filhos arteiros
parassem na hora e se sentassem, comportados que só vendo.
2) No retrato que dela pintou faltavam os olhos. O pintor disse
que só os colocaria quando conhecesse a alma da mulher. O famoso quadro “Mulher
sem alma” recebe, diariamente, milhares de olhares.
sexta-feira, junho 02, 2017
quinta-feira, junho 01, 2017
Palavra do dia: labirinto
Para escrever o texto com a palavra “labirinto”, queria mostrar que entendia de mitologia. Começou falando em Minos, Pasífae, Touro, Minotauro, Teseu, Ariadne... De súbito, perdeu o fio da meada e embaralhou-se no labirinto de suas ideias. Mais uma vez desperdiçou a oportunidade de mostrar que era sabidinho.
Teseu combatendo o Minotauro.
Jean-Étienne Ramey, mármore, 1826, Jardins das Tulherias, Paris (Fonte: Wikipedia)
Jean-Étienne Ramey, mármore, 1826, Jardins das Tulherias, Paris (Fonte: Wikipedia)
quarta-feira, maio 31, 2017
terça-feira, abril 25, 2017
Novos microcontos
2 abr. 2017 (Palavra do dia: beijo)
Dava um beijo na santa e corda no relógio, antes de ir
trabalhar, religiosamente. No dia que tentou dar corda na santa, depois do
beijo no relógio, perdeu completamente a fé, nos santos, nos homens e no tempo.
3 abr. 2017 (Palavra do dia: veleiro)
Para ser chamado pelo verdadeiro nome, pegou um lençol e
passou a se mover com os braços levantados e o lençol voando sobre sua cabeça.
Que parassem de chamá-lo de Canoa. Ele era um veleiro, sim, senhor. “Ô, Barco a
vela, tá na hora do remédio”, disse o enfermeiro, assim que o viu deslizando no
mar.
5 abr. 2017 (Palavra do dia: remédio)
Não saía de casa sem remédio para diarreia, dor de cabeça ou
um provável AVC. Desde jovem. Foi piorando com o passar dos anos. Tinha certeza
de que qualquer dia ia se desmanchar em plena avenida. Qualquer dorzinha já o
fazia começar a se despedir da vida. Morreu de velhice, sem nunca ficar doente.
Enquanto ele não lhe invadia o corpo, tomando conta de seus
pensamentos, de seus sentimentos mais profundos, nocauteando-lhe os neurônios,
ela não conseguia dormir. Suava, rolava na cama, era toda agitação, agonia e
êxtase. Somente ele, o Rivotril, era o remédio capaz de combater tamanha
insônia.
7 abr. 2017 (Palavra do dia: ovo)
Saiu
do sítio arqueológico levando para casa os dois estranhos ovos que lá estavam.
Cuidou deles como uma mãe galinha cuida dos seus. Aqueceu-os, fez neles
carinho, conversou e leu para eles. Em 2019, a casca dos dois começou a
lascar-se. Conteúdo: um casal de carnossauro. Fim da raça humana.
10 abr. 2017 (Palavra do dia: sangue)
“Não tenho sangue de barata não!”, vivia dizendo a todos o
tempo todo. Numa manhã fria, depois de um sono imensamente confuso e
transtornante, percebeu que o corpo estirado na cama não era mais seu. Os
pensamentos e os sentimentos eram dele, mas o corpo, agora, era de um imenso
inseto.
13 abr. 2017 (Palavra do dia: flauta)
Não se
achava com aptidão para nada nem coisa nenhuma. Em busca de sentido, pegou a
flauta que não sabia tocar e saiu caminhando pela estrada “tu-tu-tu”. Depois de
andar dezenas de quilômetros, resolveu olhar para atrás. Havia uma multidão
seguindo-o doce e silenciosamente, como a seguir um deus.
14 abr. 2017
Pôs-se a escrever numa Sexta-Feira Santa: “Num meio dia de
fim de primavera, tive um sonho como uma fotografia. Vi Jesus Cristo descer à
Terra. Veio pela encosta de um monte. Tornado outra vez menino, a correr e a
rolar-se pela erva... E a rir de modo a ouvir-se de longe... Tinha fugido do
céu. Era nosso demais para fingir de segunda pessoa da Trindade, onde tinha de
ficar sempre sério. E subir para a cruz e estar sempre a morrer. Hoje vive na
minha aldeia comigo. É uma criança bonita de riso e natural... A mim ensinou-me
tudo. Ensinou-me a olhar para as cousas... Quando eu morrer, filhinho, seja eu
a criança, o mais pequeno. Pega-me tu no colo e conta-me histórias, caso eu
acorde, para eu tornar a adormecer. E dá-me os sonhos teus para eu brincar”. E
assinou: Alberto Caeiro.
19 abr. 2017 (Palavra do dia: sogra)
Não queria ter sido mãe pois tinha medo do dia em que se
tornaria sogra. Era boa demais para carregar todo o estigma que vem junto com
esse título. No dia do casamento do filho, noivo e convidados dentro da igreja,
noiva pronta para entrar. Cadê ela, a sogra? Fugiu na garupa da moto do
vizinho.
20 abr. 2017 (Palavra do dia: ópera)
Tinha ódio a sons alheios e o vizinho de cima amava ópera.
Quebrou 33 cabos de vassoura e arruinou o teto. Zilhões de xingamentos, de
tampões de orelha e 3 anos depois, o vizinho partiu. Cabeça aliviada no
travesseiro. Dias depois, ouve “tchu-tchu-tcha”. Vizinho novo no pedaço. Amante
de funk.
22 abr. 2017 (Palavra do dia: almanaque)
Era cheio de manias. Uma delas era só conseguir fazer o n. 2
no banheiro lendo um Almanaque do Cascão. Quando a publicação estava esbagaçada
de tanto uso, ficou entupido várias semanas até adquirir nova mania para poder
fazer o n. 2: estudar o dicionário, só a letra F. Virou o Sábio da Efelogia.
24 abr. 2017 (Palavra do dia: língua)
Fabricava relógios de cuco desde muito jovem. Um dia,
sentindo-se velho e cansado, construiu um relógio cujo pássaro não só saía da
casinha para indicar a hora, mas também mostrava a língua, zombando de nós. O
tempo sabe passar, mas nós não sabemos.
25 abr. 2017 (Palavra do dia: terminal)
Vovozinho com mais lembranças do passado do que do presente.
Queria voltar para a casa de sua mãe, que havia partido havia uns 50 anos.
Colocou umas roupas em uma mala e foi para o terminal de trem. No quarto do
bisneto, onde havia um Ferrorama montado no chão.
terça-feira, março 28, 2017
Microcontos em homenagem ao dia do revisor, 28 de março
1) Era um revisor de textos apaixonadíssimo por vírgulas. Assim, o filho dele só podia ter um nome: Virgulino. Virgulino era tinhoso, um sujeito valente e se desinteressava por completo da carreira do pai. Preferiu o cangaço, de onde tornou-se rei.
2) Era um revisor de textos daqueles bem chatos e insuportáveis. Vivia corrigindo todo o mundo. Nenhum deslize escrito ou falado escapava de sua correção. As pessoas viviam evitando-o. Quando morreu, os colegas de trabalho enviaram-lhe uma coroa com os dizeres: “Segue em pas amigo. Dos seus amigo de servisso.”
sábado, março 25, 2017
quarta-feira, março 22, 2017
terça-feira, março 21, 2017
quinta-feira, março 16, 2017
quarta-feira, março 15, 2017
terça-feira, março 14, 2017
Microconto com a palavra "trança" (criado em 21 jan. 2017)
Festa de São João. Uma trança de cada lado dos cabelos,
vestido de chita com calçola de renda por baixo, sardas falsas nas bochechas,
batom vermelho fora do contorno da boca. Hora da dança, ninguém quer ser seu
par. Lágrimas verdadeiras escorrem-lhe pelas faces, apagando para sempre as
falsas sardas.
segunda-feira, março 13, 2017
sexta-feira, março 10, 2017
quinta-feira, março 09, 2017
Microcontos com a palavra "comida"
1) A comida era pouca. A
fome era muita. Aos filhos, dizia
que já havia comido na rua para que eles
pudessem comer o
pouco que tinha. Exausta e com fome, ia dormir. Ouviam-se
roncos no cubículo. Eram os lamentos da faminta barriga da
mãe.
2) A marmita com a comida passara a noite em cima da pia. De
manhã, colocou-a na mochila e foi trabalhar. No almoço, abre a marmita e vê que
está inundada de formigas, em meio ao arroz, feijão e bife. Ainda bem que são
daquelas formigas que fazem bem para as vistas, pensa, antes da primeira
garfada.
quarta-feira, março 08, 2017
Microcontos para o quadro no poste
Foto: Valéria Vaz
1) Dormia encostadinho no poste que tinha um quadro pendurado
sob os fios. Em seu sonho, corria naquela paisagem do mar com coqueiros. Era um
cachorro abandonado, mas, em sonho, era feliz.
2) Quis dar uma de pintora. Arrancou de uma revista uma página
com a imagem do mar com coqueiros para copiar. Tela e tintas diante de si,
pintou, retocou, impressionou-se com o resultado. Péssimo. Só servia para ser
pendurado em um poste para espantar moscas.
terça-feira, março 07, 2017
segunda-feira, março 06, 2017
Microconto com a palavra "juiz"
domingo, março 05, 2017
Microconto com a palavra "trator"
- Você é uma metralhadora. Fala demais.
- E você é um trator. Passa por cima dos sentimentos mais
sublimes que alguém possa ter.
Assim, metralhadora e trator viveram juntos, e se
detestando, até a morte. Mas, no túmulo da família, a estátua de cada um foi
colocada de costas uma para a outra. (Criado em 13 jan. 2017.)
Microconto com a palavra "trópico"
Trabalho de escola: decalcar e pintar um mapa-múndi. O
menino encantou-se entre as linhas, os pontos, os tracejados, as cores.
Mergulhou nos rios e nos mares da Terra. Andou pela vastidão do mundo e
encantou-se com sua diversidade e beleza. Perdeu-se para sempre entre os
trópicos. (Criado em 11 jan. 2017.)
Microconto com a palavra "dúvida"
De malas prontas e ávidas para verem novas paisagens, ficava
horas em pé, no meio da sala, matutando: vou ou não? Foi assim ao longo de seus
50 anos de idade. Dúvida se viajava ou não, se pintava ou não os cabelos, se se
separava ou se continuava casada... Era de Libra, com ascendente em Sagitário. (Criado em 10 jan. 2017.)
Microconto com a palavra "trevo"
Era um sujeito muito azarão. Difícil
existir outro igual. Tropicou e, estatelado na calçada, viu um trevo da sorte que,
resistente, saía da fresta de um muro. Não teve dúvida. Arrancou-o e levou-o
para si. Não deixou de ser o maior dos azarões, mas agora era também dono de um
trevo da sorte. (Criado em 7/1/2017.)
Microcontos com a palavra "surdo"
Surdo que era, era todo ouvidos quando alguém mencionava o
nome dela: Marília. Daí, ficava todo prosa e falava sem parar dos olhos, da
boca, dos cabelos e do rebolado de Marília. Era completamente cego para as
outras mulheres. (Criado em 6/1/2017.)
Era surdo de pedra. Mas ninguém melhor do que ele para ouvir
o cantar dos pássaros, o raiar do dia e o vaivém do mar. (Criado em 6/1/2017.)
Microconto com a palavra "livro"
Amava quando, no quarto, ela tirava o penhoar e, com sua
camisola transparente, ia se deitar. Ficava extasiado quando ela o pegava e o
acariciava de um jeito só dela. Sentia-se completo quando ela percorria-lhe
trecho por trecho com os dedos ávidos e os olhos úmidos. Era um livro de
cabeceira feliz. (Criado em 18/1/2017.)
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